Nasce um relógio dentro em nós quando nascemos,
E nos é dadivoso,
E nos traz esperanças e sonhos em cada tic-tac.
E vai nos moldando, nos abrindo as flores, caminhos
E horizontes...
E vai nos ensinando a ver o mundo,
E cria nossos vínculos,
E paulatinamente vai nos construindo,
Alimentando nossos ideais,
Introduzindo em nó desejos,
Moldando nossas fantasias,
Nos levando na mansão sublime do amor;
E dele aceitamos tudo;
E então estamos adultos.
Já nos dera, ele, uma família,
Filhos, riqueza, sabedoria.
E nós o amamos.
Depois ele continua guiando nossos caminhos
Em rumo à nossa inevitável metamorfose.
E aos poucos vai nos ruindo.
Como o vento que empalidece o suntuoso teatro,
Ele vai nos apagando a juventude,
Ruindo nossa beleza,
Enferrujando nossos ossos,
Debilitando nossos músculos,
Apagando nossos desejos,
Limitando nossos sonhos,
E já lutamos com ele,
Tentamos impedir suas ações,
Fazemos de tudo para impedi-lo de seguir,
Mas o tempo é implacável,
E há de sucumbir-nos inexoravelmente.