PINTANDO MINHA AMADA
Dormes, Mulher, nesta hora extrema. E vendo-te com zelo, Como o pintor que pinta o seu modelo, Eu faço-te um poema. E dormes, com o abajur aceso. Nos cetins, a face de princesa, E teus cabelos longos estendidos... Sobre esta cama, o corpo mal vestido. E dormes exposta à frouxa luz. Contorna meu olhar, teus seios nus, Enormes. E dormes, e dormes... Meu poema tenta retratar A languidez do sono em teu olhar. E por vezes me esqueço da pintura, E fico a contemplar a criatura: Parece não haver o que defina Aquela silhueta tão divina. Mas volto ao meu trabalho Que pousa frente a mim: Ainda faltam ali naquela tela A flor de cabeceira e a cortina, E um luar batendo na janela. Faltam o olhar do artista absorto, E as vestes que ainda encobrem o teu corpo. Na cabeceira falta o abajur. E falta a transparência que revela Teu corpo seminu.
Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 14/12/2006
Alterado em 28/08/2007 |